- Quer dançar comigo?
- Já disse que num quero saber de você, garoto!
Já estava rolando fazia dias, desde que eu, acidentalmente, o livrei dos trotes mais pesados da faculdade de medicina.
- Só um pouco, não fará mal!
- Cara, quer entender algo? Eu não sou gay e não vou dançar com você!
- Ah, tudo bem.
Ele pareceu desapontado e triste. Ah, droga, eu não estou gostando de vê-lo desse jeito. Ah, não. Coisa chata, que há comigo?
- Espera, espera! Você é legal, vamos conversar, to sem fazer nada mesmo.
Pelo amor de Deus, o que eu fiz? Fiquei louco de vez, serei zoado pelo resto da minha vida.
- Sério? Legal. Tá sem medo da zoação?
- Não - menti - E, aí. De onde você é?
- É... Eu vim de Ouro Preto. Você sempre morou aqui?
Se algum momento a vergonha e a timidez passaram pela cabeça daquele garoto, ela se foi totalmente. De uma hora pra outra ele ficou tão a vontade que me deu certo medo.
- Sempre e acho que nunca sai de São Paulo nesses 19 anos de vida.
- Acha? - ele riu. Tão lindo.
Lindo? Tenho que sair daqui agora!
- É, acho - aquilo saiu mais seco do que deveria - É... Tenho que ir agora, tchau.
Disse tudo sem olhar pra ele, sem saber o porquê. Mas me virei, para ser no mínimo cordial e não passar por mal educado. Ele estava mais perto do que eu imaginava.
E ele não esperou nem um segundo da minha reação. Ele me beijou.
Meu primeiro instinto foi bater nele, mas só durou um único milésimo de segundo, no seguinte eu estava totalmente entregue a ele. Era perfeito, nunca havia sido beijado daquele jeito e acho que nunca beijei também. De repente a perfeição parou. Ele havia parado de me beijar e somente me olhava, sorrindo.
- É... Acho que eu vou ficar mais um pouco - e ri.
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